sábado, 16 de novembro de 2013

A Brisa

Esta brisa fresca de uma típica noite de Verão, passa-me pela cara, consigo ainda sentir o calor de um dia inteiro, uma brisa cansada de ser substituída por calor, passa quando lhe é permitido fazer. Neste caso à noite, quando tudo está recolhido e ninguém a pode sentir. Mas eu hoje sinto-a.
Não consegui dormir, muitos chamam-lhe de insónia, mas apenas acho que é o meu cérebro a dizer que me devo levantar. Fui até à janela, vejo tudo tão claro como se fosse de dia, a lua apresenta-se de forma tão presunçosa que não há nuvem nenhuma que lhe tape a vaidade que hoje demonstra.
Abri a janela e pude sentir a brisa pálida e fresca, arrefecia-me a cara lentamente como se quisesse que ficasse ali o tempo todo como, talvez, uma companhia.
Uma música toca baixo, mal a percebo, sei apenas que é calma mas quase imperceptívelpor mais incrível que pareça é ela que me inspira, aquela música calma é o meu conforto.
Começo a sentir-me cheia de lembranças, pensamentos, coisas passadas que nunca desaparecem e que muitas vezes aparecem com o intuito de nos lembrar que ainda permanecem na nossa cabeça.
Veio-me por momentos uma sensação de liberdade, de paz, algo que me enchesse a alma de alegria e o motivo é aquele alguém tão importante, mas sempre que somos felizes haverá sempre algo a tentar impedi-lo de o sermos, o mesmo se passa agora, lembranças que deveriam de ser um passado completamente esquecido, aparecem...
Deixam-me na insegurança e, é sempre nisso que recaio.
Parece até que com isto a brisa desta noite me está a saber mal.
Entrei para dentro, meio triste, sentei-me na cama e pus-me a pensar, penso em tanta coisa que nem sei bem em que penso, enfim...
Olho para a minha mesa de cabeceira e vejo aquele livro, aquele livro que só o seu título me faz recordar coisas boas mas ao mesmo tempo coisas também más, aquele livro que não acabei de ler ainda. Reparo no pó que a capa tem, limpo-a e abro uma página sem ordem de escolha, como se diz, ao acaso. Vejo uma história um tanto triste que se torna comovente, mas na lógica toda eu não vou resumir este livro aqui, não seria o meu intuito desde o início, no entanto queria dar a perceber que há tanta coisa que me inspira, que me faz ter tantos pensamentos.
Olho à minha volta e sinto que tudo o que temos é tudo aquilo que merecemos, tudo o que sofremos foi para que um dia mais tarde possamos ser felizes, seja quanto tempo for, contínuo com a vida.
Tento dormir mais uma vez.
Um relógio, uma ventoinha a trabalhar, carros na estrada, o calor, tudo isto não me faz sossegar, tenho de estar, quase como obrigada, acordada e não percebo o porquê. Tudo tem uma razão de ser e eu não questiono.
Muitos dizem que sou positiva de mais, outros dizem apenas que nunca estou triste. Respondo com duas palavras, «problemas e esconder». Quem vai perceber esta resposta? Tenho a impressão que ninguém. Tento explicar, os problemas tornam todos os obstáculos impossíveis de serem ultrapassados, no entanto os obstáculos são mesmo os próprios problemas, mas tentarei sempre diminuir esse valor para apenas que sejam obstáculos que a própria vida mete para nos testar, sem ser mesmo preciso dizer que se chama de "problema" e esconder a tristeza para tentar esquece-la. Fui breve ao explicar, mas chega isto.
Poderia encher todas estas folhas em branco com tudo o que mais quero escrever, mas decerto que precisaria de muitas mais do que apenas esta meia dúzia de folhas que aqui tenho ainda por encher. Tento escrever só o essencial, mas mesmo este é bastante.
Há sempre coisas que fazem a diferença na nossa vida, por mais pouco tempo que seja, lembro-me de cada olhar, de cada sorriso, de cada toque, abraços e de todas as palavras. Lembro-me do dia que mudou a minha vida. Sinto o seu cheiro todos os dias, sinto como se estivesse comigo, aquela sua maneira divertida e envergonhada de ser, aquela alegria preenche-me.
Mas apercebo-me  da distância, a maldita distância. Mata-me por dentro aos poucos, lentamente como se fosse algo que não tivesse cura, uma dor insuportável que se tem de aguentar até ao fim. A saudade, outra palavra, apesar de pequena e única, mete-me o coração apertado, como que quisesse gritar bem alto e não conseguisse, sinto-me completamente presa nisto.
Sinto-me desfeita por não poder fazer nada para combater a maldita distância. Estou eu aqui a quilómetros de distância a pensar em alguém tão especial, a pensar na alegria que tu me trazes.
Todos os dias os nossos futuros são uma incógnita.
Vejo assim que nem em todos os livros há um final feliz, neste livro que aqui falei no início, a pobre rapariga morre de cancro mas apesar do seu companheiro ficar sozinho fisicamente ele saberá sempre que ela permanecerá viva no seu coração.
Poderá mesmo haver relações deste género?
Tudo nesta vida tem um propósito. Qual será o meu?
A vida não tem fim, nós é que pomos sempre esse ponto final em tudo onde não há final. Depois de tudo, acho que nada passa, tudo fica, até mesmo a brisa fresca da noite.

Inês Ferreira 2013

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